Lisboa, 2001
Someone get me a band-aid before I fall on my fuckin' face
Às vezes pergunto-me quantos dos meus vizinhos têm a chave na mão, prontos a sair de casa ao primeiro pretexto. Quantas mulheres abandonadas cantam de facto canções ao espelho, em falsetes ridículos. Quantos bebedores nocturnos assumem a sua condição, enquanto espreitam distraídos ambulâncias que passam na Segunda-Circular em excesso de velocidade e falta de esperança. Quantos tipos perto dos trinta dormem encolhidos, evitando a contragosto mandar todos à merda na manhã seguinte, com um sorriso por barbear e pose de nosso-senhor-o-esfolado. Quantas noites adormeces sem perceber que te conto as pestanas em silêncio. Eu não merecia ter nascido sem uma voz para cantar blues.
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