fevereiro 14, 2007

Roxanne

...

Nadav kander


Mordes-me a solidão sob os telhados da cidade. Sorris-me entre pastilhas elásticas sem sabor. Sabes em que esquinas te espero. Danças-me até ao fim da rua e, enquanto vais e vens, eu aceno-te embaciado e mudo, de pés no chão. Ignoro o coro de coríntios que te traz escondida no cabelo: o desamparo quando vem, vem para ficar. Ai, Aurora. Saúdo quem te fez anjo de voo rasante. Inflamável, numa cama feita de lavado. E grata, na mesma moeda. «O reino de Deus é um direito, não um milagre», deixo-te escrito. Por mais que mintas, o desencanto é um deserto. Deixas-me adormecer, fingido e traído, e despedes-te num silêncio que é teu quando me dizes adeus: «até mais, puto estúpido».
...